Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 85
(Próxima: 5/2/2010)


Midas, rei da Frígia

Anos atrás, arqueólogos da Universidade da Pensilvânia encontraram na Turquia o túmulo de um rei com  muitos objetos, pratos e restos de alimentos que pareciam fazer parte de um banquete fúnebre. O túmulo foi atribuído ao rei Midas, o mais conhecido governante que teria vivido da Frígia, como era denominada a região da Turquia na Antiguidade. Tempos depois, arqueólogos da Universidade de Cornell realizaram testes e dataram esses objetos.

O lendário rei Midas consta em vários mitos, alguns deles envolvendo os deuses do Olimpo. Um deles conta que Sileno, que fazia parte do cortejo de Dioniso, deus do vinho, exagerou na bebida e se perdeu dos companheiros. O sátiro adormeceu em um jardim e foi encontrado por camponeses que o levaram ao rei Midas. Depois de saber que ele era amigo de Dioniso, Midas o acolheu e tratou muito bem.

Dioniso ficou tão agradecido que prometeu ao rei realizar qualquer desejo seu.  Midas pediu que tudo o que tocasse fosse transformado em ouro. Mesmo achando que não era uma boa idéia, o deus concedeu ao rei o dom desejado. Midas ficou tão entusiasmado com o novo poder que transformou em ouro tudo o que viu pela frente, como móveis, objetos e plantas. Na hora da refeição, o entusiasmo desapareceu, pois os alimentos e bebidas que ele tocava também viravam ouro.

Desesperado de sede e fome, e já percebendo que tal poder poderia levá-lo à morte, Midas pediu ajuda a Dioniso, que o aconselhou a se banhar no rio Pactolo. Depois de seguir o conselho do deus, Midas voltou ao normal. Uma lenda diz que esse rio se tornou rico em ouro. Midas teria renunciado à vida de riquezas, indo morar longe da cidade. Dizem que passou a cultuar , protetor dos campos, pastores e rebanhos.

Um dia Pã desafiou Apolo para uma disputa musical e Midas foi convocado como um dos juízes. Pã era ótimo músico e teria inventado a “flauta de pã” , siringe, após conhecer Sirinx, seguidora da deusa virgem Ártemis. A ninfa fugiu de Pã e pediu ao deus das águas do rio que a transformasse em algo que impedisse a violação. Quando a alcançou, Pã abraçou um feixe de juncos. Suspirando, percebeu o som que a haste da planta emitia; então uniu sete tubos e criou o instrumento.

Apolo era um concorrente à altura, o deus dirigia o coro das Musas e a dança das Cárites no Olimpo, e também distraía os deuses com sua lira. Algumas lendas dizem que Hermes inventou a lira e a flauta, mas era Apolo quem tocava esses instrumentos com perfeição, sendo considerado também deus da música, entre vários atributos. No fim da disputa, Midas votou em Pã, provocando a raiva de Apolo, que fez com que crescessem orelhas de burro no rei.

Midas escondia as orelhas com um chapéu quando tinha que aparecer em público, somente seu barbeiro sabia o segredo. Sem poder contar a ninguém, o servo cavou um buraco na terra e contou o segredo do rei. Após algum tempo, cresceram nesse local alguns caniços. Quando o vento passava por ali, os caniços murmuravam: “o rei Midas tem orelhas de burro”. Logo toda a cidade ficou sabendo que o rei tinha orelhas de burro. Alguns textos contam que Midas suicidou-se por causa da vergonha. Outros textos contam que o verdadeiro Midas também o teria feito por causa de uma invasão ao seu reino.

Para saber mais sobre a descoberta do túmulo na Turquia:
Universidade da Pensilvânia: http://www.penn.museum/sites/Midas/Intro.shtml
Universidade de Cornell:  http://www.news.cornell.edu/releases/July96/Tree.rings.jkg.html

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