Bárbara Bandeira Benevento 
Carioca,  psicóloga, solteira, 27 anos, trabalhou com deficientes visuais, é sobrinha-bisneta do poeta  Manuel Bandeira.
Leia também seu blog, no endereço: <http://www.amorracional.blogger.com.br>.  Na foto, nossa colunista com Sacha.

  Coluna 137
(próxima coluna 19/7)

"Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de se  lutar por crianças ou idosos.
Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot

Boa tarde Leitores,

Trago hoje um texto de Gary Francione, sobre os testes realizados em animais vivos (vivissecção). Nada, absolutamente nada justifica o uso de animais em testes, sejam eles cosméticos, pesquisas cientificas, etc. Pois é eticamente errado. Não podemos torturar e matar um ser senciente, que não quer morrer em nome da ciência, alimentação, esporte, entretenimento, vestuário, etc. Eles têm o direito à vida, à liberdade. É por isso que vale muito a pena ler esse texto, para entender porque a vivissecção é tão desnecessária e horripilante. Recomendo também assistir ao filme “Não Matarás” no youtube.

Abraços

 

Fonte: http://www.sentiens.net

Texto do Blog de Gary L. Francione
25 de abril de 2007

Um dos meus principais argumentos é que, embora quase todo mundo aceite que é moralmente errado causar sofrimento e morte "desnecessários" aos animais, 99% do sofrimento e da morte que causamos aos animais podem ser justificados somente pelo nosso prazer, nossa diversão ou nossa conveniência. Por exemplo, a melhor justificativa que temos para matar os bilhões de animais não-humanos que comemos a cada ano é que gostamos do sabor da carne e de outros produtos de origem animal. Mas essa justificativa é inaceitável, se levarmos a sério (como dizemos fazer) a idéia de que é errado causar sofrimento e morte desnecessários aos animais, e ilustra o nosso pensamento confuso com relação aos não-humanos, que eu caracterizo como nossa "esquizofrenia moral”.

Uma pergunta que eu costumo ouvir sobre isso é a seguinte: "E quanto à vivissecção? Claro que nesse caso não estamos usando os animais meramente por prazer, certo?".

Pode-se argumentar que o uso de animais na pesquisa biomédica destinada a produzir dados úteis para questões importantes envolvendo a saúde e as doenças humanas não é transparentemente frívolo como o uso que fazemos de animais para comida, caça, entretenimento, vestuário, etc. O uso de animais para aquele propósito representa um segmento muito pequeno das muitas atividades que constituem a vivissecção, e muito do uso de animais naquele contexto tem mais a ver com os lucros das empresas e a interminável avalanche de produtos de consumo que alimentam esses lucros, do que com questões prementes de saúde humana.

É pelo menos plausível alegar que o uso de animais para testar e desenvolver curas e procedimentos é necessário à obtenção de certos benefícios desejáveis e significativos, e que este uso animal pelo menos envolve, ostensivamente, alguma coisa que não seja prazer, diversão ou conveniência. Aqueles que defendem o uso de não-humanos para esse propósito também afirmam que só usam animais quando não há uma alternativa disponível, que utilizam o menor número de animais possível e que os expõem somente ao mínimo de dor e sofrimento consistente com os objetivos científicos do uso. Portanto, eles argumentam que o uso de animais para esse fim - e a dor, o sofrimento e a morte (incidentais a esse uso) que lhes causamos - são necessários por razões que não valem para os outros usos que fazemos de não-humanos.

Eu não compartilho a opinião, expressa por alguns defensores dos animais, de que nós não aprendemos absolutamente nada de útil com a vivissecção, embora eu sustente, sim, que as afirmações sobre aquilo que aprendemos são imensamente exageradas. No entanto, eu também acredito que há sérios problemas com as afirmações de que a vivissecção é necessária, assim como com a alegação de que os pesquisadores levam a sério o imperativo moral de infligir apenas o sofrimento necessário para o propósito científico em particular.

Em primeiro lugar, para desenvolver procedimentos médicos ou terapias, usam-se quase sempre animais; conseqüentemente, é difícil fazer uma representação factual precisa acerca do verdadeiro papel causal que a utilização do animal desempenhou em qualquer descoberta médica específica. Já que os animais são sempre usados como modelos de doença, ou para testar procedimentos ou remédios, não podemos afirmar, com certeza, que sabemos que os procedimentos ou as descobertas atribuídos à utilização de animais não poderiam ser obtidos sem ela.

Segundo, por causa das diferenças biológicas entre os humanos e os outros animais, é sempre um problema extrapolar para os humanos os resultados de experimentos com não-humanos. Embora a incerteza ligada à extrapolação afete toda pesquisa médica que usa animais, ela é particularmente problemática no contexto do uso de animais para testes, o que geralmente envolve prever como os humanos reagirão à exposição a pequenas quantidades de uma substância ao longo de suas vidas, com base em como os não-humanos respondem a grandes quantidades durante um período curto. O problema da extrapolação provém do fato de que nenhuma espécie de animal tem reações idênticas às reações humanas.

Terceiro, os dados produzidos pelo uso animal são freqüentemente duvidosos. Por exemplo, resultados de exames de toxicidade usando animais podem variar de maneira impressionante, dependendo do método utilizado. Não é incomum que um estudo empregando a inalação de um produto químico resulte no desenvolvimento de um câncer, enquanto a administração oral da mesma substância não. Além do mais, as variações em exames de toxicidade aguda e crônica também podem ser gritantes. Tais variações ocorrem de laboratório para laboratório, dentro da mesma espécie de animal e também entre espécies diferentes de animais.

Quarto, toda afirmação de que o uso de animais é necessário pressupõe que não há nenhum outro modo de resolver problemas de saúde humana. Ou seja, mesmo que os experimentos com animais estejam ligados, de maneira causal, à produção de dados relevantes para a questão da saúde humana, isso não quer dizer que os experimentos com animais sejam o único, nem o mais eficaz, modo de resolver esses problemas de saúde. A pesquisa em animais é cara, e pode-se argumentar, com plausibilidade, que se o dinheiro fosse usado de outra maneira, o resultado final poderia ser melhor. Por exemplo, o considerável gasto com as pesquisas da Aids usando animais produziu pouca coisa de útil para os pacientes humanos dessa doença. E a maior parte de tudo que resultou em vidas longas e melhores para os pacientes de Aids e HIV foi obtida a partir de testes clínicos com humanos.

É certamente plausível afirmar que se o dinheiro gasto na pesquisa in vivo fosse, ao contrário, gasto em campanhas públicas educativas sobre sexo seguro e uso de seringas descartáveis, assim como em distribuição de camisinhas, o índice de novos casos de HIV cairia drasticamente. A escolha da experimentação animal para tratar do problema é, em muitos aspectos, uma decisão tão política e social quanto científica. Os experimentos com animais são considerados um modo admissível de resolver o problema da Aids, ao passo que educar sobre sexo seguro e distribuir seringas descartáveis e camisinhas são iniciativas politicamente controversas.

Além do mais, há fortes incentivos institucionais militando contra o uso de alternativas à pesquisa in vivo como os modelos de computador. Os experimentadores estão acostumados a usar animais, e normalmente relutam em adotar tecnologias novas e que lhes são desconhecidas. Mas o fato de que a vivissecção talvez seja mais aceitável política, social ou institucionalmente do que outros modos de abordar os problemas de saúde não significa, é claro, que ela seja mais eficaz.

Quinto, há evidência empírica desafiando a noção de que os experimentos com animais contribuem de forma positiva para a saúde humana, e indicando que, em muitas instâncias, esses experimentos têm sido, na verdade, contraproducentes. Inúmeros exemplos ilustram isso. Um deles é que, embora estudos tenham concluído, no início dos anos 60, que existia uma correlação entre o câncer de pulmão e o fumo, o fracasso das tentativas de desenvolver um modelo animal de câncer de pulmão levou os pesquisadores a rejeitarem a validade da teoria de que fumar causa câncer de pulmão.

Seis, mesmo se aceitarmos que algum uso de animal é empiricamente necessário em casos envolvendo sérios problemas de saúde humana, há muita vivissecção que não se enquadra nessa categoria e em que o uso de animais pode apenas ser descrito como fútil, desnecessário e, às vezes, absolutamente bizarro. A propósito disso, as revistas de psicologia são ricas em exemplos de uso animal difíceis de defender, mesmo se dermos só uma importância mínima aos interesses dos animais. Além do mais, muito uso de animais para testar produtos indubitavelmente frívolos ou duplicados não pode, com plausibilidade, ser caracterizado como necessário.

Sete, sempre que afirmarmos que precisamos usar animais para encontrar a cura de doenças humanas, devemos ao menos considerar que muitas dessas doenças parecem estar relacionadas a um uso claramente desnecessário de animais - nosso hábito de comer produtos de origem animal. De fato, muito da pesquisa in vivo professa se ocupar de enfermidades causadas por um comportamento humano totalmente desnecessário e freqüentemente destrutivo. Isso implica questões de justificativa moral, mas também é relevante para alegações de necessidade empírica.

Oito, é seriamente discutível a afirmação de que os pesquisadores infligem somente o grau de dor e sofrimento que cada uso requer. Em primeiro lugar, a maioria dos não-humanos usados em experimentos - ratos e camundongos - não é sequer coberta pela Lei do bem-estar animal, o que significa que os dados necessários para apoiar aquela afirmação nem estão disponíveis. O mais importante, contudo, é que as informações que temos sobre a dor e o sofrimento dos animais provêm justamente dos relatórios das pessoas que fazem os experimentos, havendo inúmeras instâncias em que nem sequer os procedimentos invasivos são considerados, por esses pesquisadores, dolorosos ou angustiantes para os animais.

É claro que mesmo que o uso animal nesse contexto não seja transparentemente frívolo (como são os outros usos de animais), isso não significa que é moralmente justificável. Conforme eu argumento no meu livro Introduction to Animal Rights: Your Child or the Dog? e em outros lugares, se aceitamos a perspectiva dos direitos animais, não podemos justificar esse uso dos não-humanos, independentemente de qualquer benefício que possamos obter com seu resultado.

Gary Francione é professor de Direito e Filosofia na Rutgers University, EUA. Conhecido internacionalmente por sua teoria de direitos animais abolicionista, é um crítico implacável das leis do bem-estar animal e da condição de propriedade dos não-humanos. E-mail: gfrancione@kinoy.rutgers.edu .

Regina Rheda é escritora premiada, vegana desde o ano 2000 e mora nos EUA. Traduziu o livro Jaulas Vazias , de Tom Regan (Editora Lugano). Seu website é http://home.att.net/~rheda/RRHPPortg.html . E-mail: regina.rheda@yahoo.com.br .


Esta coluna é atualizada mensalmente, dia 19.
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