COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Delegada na área Literária (Secretaria Municipal da Cultura).

1ª quinzena de agosto de 2008 - Coluna 113
(Próxima coluna: 18/08)

Senhora dos animais

Dona Fulana de Tal adora ser colunável. Ontem mesmo sua foto saiu no jornal. Deviam proibir que seu nome e sobrenome (de família tradicional na Província do Fim do Mundo) saia legendando seu retrato. Em casos como esse, os jornalistas deviam adotar o mesmo critério adotado para menores de idade: tarja no rosto e apenas as iniciais. Quem sabe, dessa forma, tal senhora parasse de fomentar o assassinato de tantos animais apenas para externar seu poder aquisitivo e criminoso. Quantos animais foram sacrificados e assassinados para vestir seu volume disforme e envenenado por outras maldades? Mais assassinatos se soma ao currículo criminoso da srª Fulana de Tal. Muitos mais. À noite, o creme de gordura de baleia; o creme do dia é à base de óleo de tartaruga. Outros produtos famosos enfeitam sua coleção importada de maquiagem ecologicamente incorreta e alguns perfumes (talvez algum extrato de gambá!?).

Soube que seu prato preferido é vitela, a tal carne pra lá de nobre, que custa a vida de tantos bezerros privados da companhia e do leite materno, criados em celas apertadas, deitados, anêmicos (o que se traduz na brancura de sua carne). Mas ela não dispensa ovas de peixe, adora um patê de foie gras , picanha mal passada, ainda pingando, e outras delícias sanguinárias. Católica fervorosa, na hora da missa, quando ouve e pronuncia a frase: "Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo...", logo sonha em pensamentos sua infância longínqua: Ai, uma boa perna de cordeiro com ervas, como fazia minha avó... Saudades...

Uma enorme cama, onde deita seus sonhos em penas de cisne tailandês e se protege do frio com um maravilhoso edredom de plumas de ganso.

Sapato e bolsa de couro legítimo, é claro, afinal, nada se pode desperdiçar dos animais que estão à nossa disposição para uso e consumo, ao bel prazer e luxo dos que podem pagar exorbitâncias por produtos exóticos e exclusivos.

Mas é na decoração que ela capricha: No Hall de entrada, um tapete de pele de zebra faz pano de fundo pra duas colunas de dentes de marfim esculpidos, ao lado da porta da sala principal. Nesta, um enorme abajur de ovo de avestruz e algumas arandelas de casco de tartaruga. Sempre atualizada já fez sua reserva para ir a Londres, setembro próximo, numa exposição que fará parte do London Design Festival e que promete chocar os visitantes do evento, entre os dias 13 e 23 de setembro na capital inglesa, onde talentosos designers e artistas de vanguarda irão mostrar objetos do cotidiano e animais (alguns deles aparentemente mortos há pouco tempo) acomodados em taças, bandejas e urnas de vidro. As obras, consideradas perturbadoras, representam uma corrente artística na qual os criadores contemporâneos buscam inspiração em criaturas vivas e tentam provocar reações intensas no público.

Dona Fulana de Tal vai adorar e, com certeza, nos brindará com fotos ao lado de suas futuras aquisições artísticas nas colunas sociais mais bem freqüentadas da província.

FONTE DA NOTÍCIA SOBRE EXPOSIÇÃO (incluindo uma foto aterradora): http://farejadordanet.blogspot.com/2008/07/animais-mortos-viram-obras-de-arte-em.html


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