Blocos - Literatura - Coluna de Thaty Marcondes

Todas as tardes a mulher pegava seu tecido de bordar e desenhava com linhas coloridas. Um tecido branco, um tecido rosa, um tecido azul, um verde claro, um bege desmaiado, um alaranjado, porém, nunca em tons escuros, os tecidos variavam de forma e cor. Uma toalha de mesa, um jogo de lençol ou de toalhas de banho, roupas de bebê. E ia bordando alegres passaredos, mimosas flores, iniciais. Sonhos intercalados. Vieram os filhos e a cada espera o enxovalzinho delicadamente decorado pelas prendadas mãos. Na varanda se notava quando ela aguardava uma menina ou um menino, pela cor dos tecidos. E vieram os casamentos dos filhos, e a chegada dos netos. E novamente os enxovais foram finamente ornados pela futura avó.
Foi estranho quando a mulher se ausentou por algumas tardes chuvosas. Reapareceu depois de um tempo com um manto negro nas mãos, e nele bordou estrelas prateadas e douradas.
Talvez na esperança de criar uma nova constelação, dizia que tecia as bordas do tempo. E reclamava do pouco tempo que ainda tinha pra bordar seu escasso tempo.
Um dia vestiu-se com ele e partiu. Ela e o tempo.

Arquivo das colunas anteriores:
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78 , 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104 , 105 , 106 , 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113

« Voltar