Bárbara Bandeira Benevento 
Carioca,  psicóloga, solteira, 27 anos, trabalhou com deficientes visuais, é sobrinha-bisneta do poeta Manuel Bandeira.
Leia também seu blog, no endereço: <http://www.amorracional.blogger.com.br>.  Na foto, nossa colunista com Sacha.

Coluna 152

"Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de se  lutar por crianças ou idosos.
Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot


Mãe Terra

Enxergo luz porque sou sombra
Certezas sobre vazio trazem o céu
O sangue de inocentes
Torna-me cinza

Bárbara Bandeira

Queridos leitores,

Um artigo muito interessante sobre nossas limitações, nossas barreiras, nossa incapacidade de mudança, de ver o outro (seja ele qual for), de sairmos do conforto, de sermos responsáveis por nós mesmos e por nossos atos sobre o planeta. Pensar demais é danoso, refletir é benéfico.

Certamente é doloroso arrancar a venda dos olhos,
deixar de viver na ficção que criamos dia a dia
para poder contemplar a realidade tal qual ela é,
além das fantasias comodistas. (N. Acrópole)

Construção e libertação da consciência

Artigo de  Simone Nardi ***

É fato que a maioria das pessoas vive dentro de uma prisão, e a essa prisão daremos o nome de ignorância. Vivemos presos à ignorância quando nos suprimimos da verdade, ou quando, acanhados por ela, ignoramos tudo que poderia nos libertar. Não queremos ouvir porque, se ouvirmos, saberemos: isso é Libertação. Não queremos ler ou ver porque isso também geraria uma Libertação. Estamos tão acostumados a carregar as pedras da inconsciência que não desejamos mais a Liberdade que nos soa como algo inseguro e diferente.

A chave que poderia nos libertar e que se chama Consciência, na verdade nos aterroriza, pois nos fará sair da posição confortável de vítimas, para a posição de seres de Responsabilidade. Esse o grande problema da humanidade hoje em dia em relação à Libertação Animal. Tornar-se consciente exige de nós responsabilidade para com aqueles seres que, até então, julgávamos inferiores. Ter consciência de seus sofrimentos nos força a uma transformação para a qual não há volta. Não adianta ouvirmos discursos batidos de pessoas que se diziam veganas/vegetarianas e que resolveram voltar a comer carne, essas não deixaram as grades da ignorância, apenas colocaram os olhos para fora por poucos minutos e ao notarem que a responsabilidade seria gigantesca, optaram pela cela fria da ignorância novamente.

Quando verdadeiramente conscientes dos prejuízos que causamos a outrem, torna-se impossível à volta a cela, à volta ao mal do qual escapamos através da razão consciente. Sabemos que a mudança ocorre de modo diferente em cada um, porém, se ocorrer de fato, não se pode abandonar a luz e retornar as trevas. Esse processo de mudança se inicia no momento em que nos encontramos com a Verdade, e a Verdade no campo da Libertação Animal é que a humanidade maltrata os animais de todas as formas possíveis e imagináveis, alicerçada apenas em antigas crenças mentirosas de que possui direitos sobre eles.

A construção de uma nova consciência não ocorre, muitas das vezes, individualmente, é necessário um auxilio mútuo, é necessário que mudemos e nos conscientizemos para, a partir daí, conscientizarmos o nosso próximo, e isso se desenvolve de modo diferente em cada pessoa. Existem aquelas que racionalmente conseguem perceber com maior nitidez e rapidez o engano no qual viviam até então, para elas trocar a cela da ignorância pela liberdade que lhe traz a conscientização é uma coisa que faz parte de sua existência, é um passo que é dado de forma natural, pois faz parte da sua vida, tal como ao caminhar se coloca um pé diante do outro. É fato, é o caminho real, sendo necessário prosseguir. Essa pessoa não teme as responsabilidades que advêm dessa mudança, ao contrário, aceita a mudança, pois sabe que faz parte da humanidade mudar e progredir. É impossível para ela não mudar.

Há outras, no entanto, que demoram em admitir essa transformação porque sabem que isso implica em grandes responsabilidades afinal, é bem mais fácil permanecer onde se está do que se movimentar em qualquer direção. Outros ainda irão preferir permanecer nas celas de sua ignorância para sempre não se permitindo ouvir, ver ou ler algo que possa tirá-los de sua inanição mental.

É preciso construir uma Libertação da Consciência para, a partir daí, construirmos a Libertação Animal, é o trabalho de cada indivíduo que irá alicerçar e construir essa libertação, é por esse caminho que todos caminhamos, sabemos que sem isso não haverá mudança nem Libertação. Mas, infelizmente, é uma das verdades da Libertação Animal, o fato de encontrarmos ainda hoje, apesar de todos os veículos de comunicação que temos ao nosso dispor, pessoas que preferem permanecer resguardadas do mundo real, com frases decoradas de que os animais são seres inferiores e são criados para o sofrimento. Dizem que lutam pelo Meio Ambiente, mas se esquecem que o hábito alimentar é um dos principais problemas que enfrentamos hoje , pois a agropecuária sozinha emite cerca de 18% dos gases que ajudam a produzir o efeito estufa.

De dentro da cela de sua ignorância, cada pessoa dessas não consegue perceber que é o responsável pelo desequilíbrio planetário, ela não quer ver que mais de 200 milhões de bovinos antes de morrer serão responsáveis pelo aumento do metano no ar, ela quer permanecer acreditando que seu bife não faz parte dessa destruição. Ela se recusa a saber que mais de 100 milhões de animais são mortos todos os anos em experimentações laboratoriais, mas nas celas da sua ignorância essas pessoas preferem se exceder em seus vícios, no fumo, na bebida, na promiscuidade, acreditando que uma mera vacina irá sanar todos os problemas do mundo. Elas tapam seus ouvidos para o fato de que cerca de 38 milhões de animais são retirados da natureza de forma contrabandeada e que mais da metade desse total acaba morrendo antes de chegar às mãos do receptador, no entanto essas pessoas, as mesmas que adquirem animais silvestres como se fossem objetos, permanecem surdas a esses avisos.

E alguns ainda dizem que conhecimento é sinônimo de sofrimento, e é sofrimento a partir do momento em que você se encara como um ser capaz de cometer todas as atrocidades citadas acima e não luta para mudar isso. As pessoas preferem ignorar e se isentar de qualquer sofrimento apenas para não ter que lutar contra elas mesmas pois sabem que fazem parte de um sistema destrutivo, mortal e cruel e sentam-se em suas celas escuras procurando abafar os gemidos e ocultar as imagens de sua crueldade, arrumam desculpas, ironizam, ignoram que são elas que matam e que criam doenças.

E estes ainda esperam por um mundo melhor...

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*** Simone Nardi é escritora e estudante de filosofia, autora do blog Consciência Humana , colunista do Site Espírita da Feal (Fundação Espírita André Luiz) e fundadora do Grupo de discussão espírita Clara Luz, que discute a alma dos animais e o respeito a eles.


Esta coluna é atualizada mensalmente, dia 19.
Próxima: 19/10/2009

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