COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Delegada na área Literária (Secretaria Municipal da Cultura).

2ª quinzena de outubro de 2008 - Coluna 118
(Próxima coluna: 3/11)

A LENDA DOS EXCLUÍDOS

Meu povo conta histórias. Meu povo viveu histórias de tempos de glórias, de esperanças. Meu povo lembra histórias e lendas de desesperanças e enganos.
Nossas glórias resumem-se aos dias em que nossas terras encontravam-se no centro - o umbigo do mundo. Bem no centrinho do umbigo, que ligava o centro geodésico deste planeta ao do nosso planeta mãe, Rapa Nui ("terra mãe", em nossa língua), pode-se ver, ainda, o centro do vulcão há muito extinto. Viemos fugindo da devastação causada pelos inimigos que nos invadiram. O imperador da frota que nos conduziu escolheu o lugar a dedo, na vastidão do universo estelar. Feitos os cálculos matemáticos, os anciãos videntes foram ouvidos e deram sua palavra final aprovando o lugar, que podia ser visto de muitos anos luz, devido às explosões do vulcão. Assim, se mais tarde mais alguma frota conseguisse fugir do nosso planeta de origem, poderia facilmente unir-se a nós, os pioneiros.
O clima era muito parecido, porém, a natureza era bem diferente: nunca havíamos visto tanta vegetação! Nosso planeta tinha o ar mais quente, mais pesado, o solo era mais seco e haviam mais vulcões do que aqui.
Nos espantamos com o astro que brilhava à noite, em fases diferentes. Os astrônomos observaram, fizeram cálculos e, dessa forma, desenvolvemos uma escala de contagem de tempo baseada na observação dessa estrela gigante.
Nos acomodamos a alguns quilômetros do vulcão, numa cordilheira de montanhas altas, hoje extinta, onde as larvas não poderiam nos atingir. O vulcão tinha épocas de calmaria. Nossos físicos estudaram seu ciclo de explosões.
Para evitar que as tropas inimigas nos localizassem, o imperador determinou que, em épocas de repouso do vulcão, construíssemos representações dos Seres Superiores do Universo e colocássemos em volta da planície próxima à água, para manter afastados nossos inimigos, pois, apesar deles serem anfíbios, apenas a composição da água terrestre seria adequada à sua respiração. Os engenheiros galáticos fizeram a planta, para que a localização dos símbolos também pudesse orientar nossas naves irmãs a pousarem, quando aqui chegassem. A matéria mãe de nossas obras foi retirada das encostas do vulcão.
Tivemos tempos de glória, embora solitária, onde conseguimos prosperar em paz, abundância de alimentos que o solo nos proporcionava e água pura e cristalina. Sofremos mutações com o tempo, nos misturamos à espécie nativa derivando outras. Até o dia em que houve um grande tremor no planeta e nosso solo se separou do resto do continente. O umbigo do mundo foi deslocado e o centro geodésico dos dois planetas foi desalinhado. Nossos Seres Superiores de pedra, os "Moais" (deuses) como são chamados em nossa língua original, sobreviveram.
Nossos desenganos são o presente e nossa incerteza, o futuro.
Os inimigos nunca vieram. O resto de nosso povo também não. Não sabemos o que houve em nosso planeta. Nutrimos apenas a esperança de um dia ainda sermos resgatados e levados de volta à nossa pátria, pois aqui somos considerados seres de pouca inteligência.
Pobres terráqueos, ignorantes, que nem precisam de inimigos para se destruirem!


Arquivo das colunas anteriores:
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78 , 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104 , 105 , 106 , 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115 , 116, 117

« Voltar