Bárbara Bandeira Benevento 
Carioca,  psicóloga, solteira, 27 anos, trabalhou com deficientes visuais, é sobrinha-bisneta do poeta Manuel Bandeira.
Leia também seu blog, no endereço: <http://www.amorracional.blogger.com.br>.  Na foto, nossa colunista com Sacha.

Coluna 154

"Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de se  lutar por crianças ou idosos.
Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot


Oi pessoal,

Trago hoje um artigo sobre gatos, mas que serve para qualquer outro animal não humano e humano. Deveríamos aprender com eles, nos tornando pessoas mais observadoras, mais calmas, menos ansiosas. Sermos mais brincalhonas, mais livres, menos neuróticos, não levarmos as coisas tão a sério, não seria bom? Quem sabe assim, talvez, nos livrássemos de tantos medicamentos? Para ansiedade, depressão, estresse, coração, fígado, etc. A vida não é fácil e temos muitas perdas, tarefas e coisas desagradáveis para serem feitas, mas se conseguirmos olhar em volta, olhar para dentro só um pouquinho, vamos ver que podemos ser melhores, temos potencial para isso, basta querer. E lembre-se: tem sempre um animal precisando da nossa ajuda e cada um pode fazer sua parte, não custa nada e faz um bem danado! Abraços

Fonte : http://www.artigonal.com

Quantas Perguntas Tem Um Gato?

Cora é uma gata com quem convivo há sete meses e nesse pouco tempo descobri que se pode aprender muito com um animal como esse e quanto amor ele pode acender. Na produção de Pierre-André Boutang, O abecedário Deleuze , a entrevista com o filósofo se inicia pelo tema Animal. Deleuze expressa seu desagrado com os gatos: “não gosto dos roçadores, um gato passa seu tempo se roçando, roçando em você, não gosto disso.”.Mesmo discordando dele neste aspecto, em outro sentido, descobri em seu olhar de filósofo uma coisa que eu nunca houvera pensado. “Se tento me dizer, vagamente, o que me toca em um animal, a primeira coisa é que todo animal tem um mundo. É curioso, pois muita gente, muitos humanos, não têm mundo. Vivem a vida de todo mundo, ou seja, de qualquer um, de qualquer coisa. Os animais tem mundos. Um mundo animal, às vezes, é extraordinariamente restrito e é isso que emociona.”

Aprendo com esse pequeno mundo dos gatos, a serenidade, a atitude quando algo não dá certo, sem desistir e se irritar por ter que tentar de novo, os animais tentam com a mesma tranqüilidade que tinham quando da primeira vez, algo muito valioso de se aprender para uma sociedade cada vez mais imediatista. Outro dia Cora ficou doente e deve ter se sentido muito mal, emagreceu muito em pouco tempo, teve febre, porém, não miava nem resmungava, uma imensa dignidade em meio à dor. Fiquei tocada. Novamente me lembro de Gilles Deleuze dizendo que “não são os homens que sabem morrer, são os bichos e os homens, quando morrem, morrem como bichos”. Cada vez se mais nos afastamos dos outros homens e da natureza e, assim, cada vez mais se necessita do “filho-de-estimação”. Travamos uma relação humana com o animal e como diz Deleuze, se deve ter uma relação animal com o animal. A Cora não é minha filha, como o garoto do Pet Shop insiste em dizer, ela é um bicho lindo de se olhar, doce de conviver, que eu cuido com o maior carinho, mas a quem dou espaço para que seja o que ela é, um gato.

Outro dia assisti um programa de televisão que falava sobre religiões, e o professor palestrante contou uma história muito ilustrativa à respeito da personalidade dos gatos e também sobre o que o Budismo tem como verdade sobre cada um ter o seu próprio caminho evolutivo. Ele conta: Quando Buda alcançou o nirvana , chamou todos os animais, no entanto, o gato não apareceu. Todos os animais ficaram muito bravos, mas o gato como sempre ficou na dele. Mas de tanto os animais reclamarem da ausência, Buda explicou que o gato seria o primeiro ser budista do universo, já que para ele não importa a iluminação alheia. Essa história é boa, não apenas pela descrição do jeito de ser do gato, mas por essa história budista de que cada um tem seu processo de desenvolvimento, e existir ou não um Deus, não interfere nesse percurso. Mas isso é outro assunto, por hora me dedico a observar minha gata tomando seu banho, aliás, observar é outra coisa que ela tem me ensinado.

“Se me perguntassem o que é um animal eu diria, é o ser à espreita”. A partir dessa resposta de Deleuze, me agrada pensar que meu olhar para Cora é valioso e que eu deveria aprender a estendê-lo para tudo que me cerca. Olhar de respeito e curiosidade para aprender com o outro, independentemente se este outro é um gato, um passarinho, uma criança, um mendigo, um doutor ou um mestre. Na verdade esse deveria ser o olhar do artista para o mundo, ou pelo menos, esse é o meu olhar de artista: sempre à espreita!

Hemilin Andrade, Atriz, diretora teatral, educadora e pesquisadora. Apaixonada por todas as artes, busca se tornar uma pessoa totalmente livre de si mesma quando completar 40 anos. Escreve contos, crônicas, artigos e poesia.



Esta coluna é atualizada mensalmente, dia 19.
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