Coluna de 26/5/2009
(próxima coluna: 9/6/2009)
O INÉDITO DENTRO DO COMUM
Crônica escrita em dois momentos, no dia 9 de fevereiro. O primeiro ao acordar, por volta das 7 horas. O segundo, à noite, quando cheguei em casa. A primeira parte trata das expectativas, a segunda do que aconteceu e dos possíveis imprevistos ocorridos nesse dia.
7 horas. 9 de fevereiro de 2009
Acordo. O dia será nublado e abafado. Hoje começam as aulas para os alunos. Acontecerá o primeiro contato. Há sempre a expectativa dos começos, de como eles vão reagir, e claro, minhas próprias reações diante de 40 adolescentes. Hoje explico normas, faço acordos, estabeleço o que faremos no primeiro bimestre. Talvez seja possível já identificar os alheios, os auto-suficientes, os líderes positivos e negativos, para usar um jargão escolar.
À noite, depois das aulas, irei a São Francisco do Sul, participar de um sarau no Museu do Mar. Será a primeira vez que participo desse evento. Conheço apenas uma pessoa que está envolvida. Na programação: um lançamento do meu livro “Vertebrais”, a declamação de alguns textos e uma conversa sobre crônicas com a escritora Urda Alice Klueger com quem mantenho contato via e-mail.
Essa será a primeira vez que nos encontraremos pessoalmente. Quanto ao sarau, não faço ideia do público mas conheço o lugar, que por si só já é poético.
Tenho de desmarcar meu dentista por incompatibilidade de horários. Tenho de abastecer e calibrar os pneus da moto. Ainda não sei onde vou almoçar. Espero que não chova, não é bom viajar de noite com chuva.
1h20. 10 de fevereiro de 2009
Madrugada. O sono exige atenção. Rememoro o dia. Sem percalços. Somente surpresas agradáveis. No caminho para a escola uma blitz da Polícia Militar. Não sou parado, não haveria nenhum problema, mas sempre acho que vou ter algum problema em blitz, deve ser trauma anterior, pois não lembro de mãe ou pai me ameaçando com a polícia.
Como comecei a dar aula no meio do ano passado, não havia ainda experimentado o primeiro dia do ano letivo, além do silêncio investigativo dos alunos. O que mais me chamou atenção foi como simpatias e antipatias mútuas crescem, visíveis, à nossa frente. Numa das salas, a energia fluiu, o andamento foi afinado, divertido, promete ser um ambiente muito fácil para o trabalho. Noutra, esbarrei diversas vezes nas resistências dos alunos. O velho “não foram com a minha cara” estava bem presente ali.
Quanto ao sarau em São Francisco, o lugar é adequadíssimo à poesia. Um bom público prestigia o evento que teve uma palestra sobre Mario de Andrade, música, um repentista local, eu, Urda e Carlos Adalto Vieira falando de crônicas e literatura, outros escritores dizendo poemas. Foi uma noite divertida, cheia de gente que fala a “minha língua”, o que sempre me deixa feliz, pois não me sinto tão isolado no mundo.
O dia foi nublado, choveu um pouco, mas nada que atrapalhasse a breve viagem. Desmarquei o dentista, abasteci e calibrei os pneus, almocei na escola. Não fez tanto calor como eu esperava. Termino aqui. Amanhã a vida segue. Foi um dia ameno, fácil, repleto de coisas e gentes inéditas dentro da rotina de um “rapaz latino americano sem dinheiro no banco”.
Arquivo de colunas anteriores:
01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52 , 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72 , 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90