2ª quinzena de março de 2010 - Coluna 126
(Próxima coluna: 3/4/2010)
AMOR, RIDÍCULO AMOR
Não, Baby, o amor não navega por águas amenas, nem mata as amebas, nem incita as algas a terem mais ou menos hormônios, assim como não aplaca a TPM das ninfas ou a excitação das sereias.
Não, Baby, o amor não é uma cerimônia de jantar à luz de velas, a família em volta reunida em smokings de faisão ou ovas de peixe em longos bordados de pedrarias semipreciosas e ociosas jóias, à espera do pedido e do anel de falso brilhante.
Não, Baby, o amor não tem tempo pra frescuras nem espera à porta do CEASA pelas frutas e verduras recém colhidas e ainda molhadas por um sereno ameno e carinhoso, como se não existisse a chuva e o granizo, o sol ardente pra castigar sua pele delicada e sem cosméticos adequados.
Não, Baby, o amor não chacoalha no ônibus (sub)urbano feito lata de sardinha em conserva ou cereja de melancia em líquido espumante ou espumoso por conta de gozo e perjúrio, aromatizada artificialmente em calda morna e falsa de Q-Suco.
Não, Baby, o amor não perdoa o vencimento da pensão alimentícia que sustenta a fome dos corações abandonados ou trocados por vulgares camas mais quentes do que se garante ao assinar a papelada ou se vestir pro carnaval da Igreja em dia de branco e flores murchas que depois vestirão algum velório da periferia.
Não, Baby, o amor não se desmancha em lágrimas sobre as velhas fotografias nem mancha a tinta da caneta plástica que maculou o papel colorido arrancado de um caderno universitário quando em devaneios se fez poeta um aluno distraído e distante das fórmulas de física ou química.
Ah, Baby, Baby... O amor arranca os botões da camisa, rasga as calcinhas, quebra as janelas com seu urro, derruba as paredes com seu choro, dá um tiro na toalha e afoga as dores de cabeça em sais na banheira ou num mergulho na piscina ou na água da mangueira que jorra na laje da periferia. Basta um gole a mais ou a menos de frisante ou sidra; uísque ou rabo-de-galo, e pronto: fez-se o encanto ou desfaz-se a magia – a diferença pode ser um único gole a mais, ou a menos – depende de quem parte e de quem fica. Mas é sempre uma equação matemática, uma simples continha de x e y, de mais e menos, de multiplicação e divisão. Mas, seja como for, sempre haverá um perdedor... ou dois...
Em todo caso, Baby, este é um bilhete suicida, se é que você ainda não percebeu. Parto sem parir poema ou prosa que mereça crédito ou nota com louvor levando comigo não a fitinha do Bonfim – como já o disse algum poeta ou compositor –, que na minha modesta bolsinha de festa só cabe mesmo o velho batom cintilante, que tantas vezes marcou teu pescoço e te fez apanhar em casa da tua mulher ao ver teu colarinho manchado ou sentir meu perfume vulgar em tuas roupas mais íntimas. Um Engov ou um Viagra e você tira de letra, Baby, esse abecedário que não te cabe mais, repleto de lê, mê, nê e outros que tais que preenchem minha periferia carregada de sotaques outros, distante minha língua de Paris ou Miami, porém próxima do São Francisco ou da aduana do Paraguai.
Bye, Baby, bye... Arre égua, bichinho, que já vou tarde, não sabe?
“O anel que tu me deste era vidro e se quebrou...”