Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida e O silêncio do delator, agraciado com o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL. Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor e conheça a poesia do colunista, cujo CD agora tem opção de download. Site: http://www.neumanne.com
Coluna de 10/7/2008
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CINECLUBISMO
José Nêumanne Pinto responde a questões formuladas por Filipe Vasconcelos, aluno do curso de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande, em junho de 2008.
FV - Como o Senhor entrou no cineclubismo?
JNP - Entrei no Cineclube Glauber Rocha, que se reunia aos domingos numa das salas do Colégio das Damas a convite de um colega de classe, Iremar Maciel de Brito, que, à época o presidia. Além disso, eu freqüentava amiúde a casa de Nicó Barros, outro colega de classe, que era primo de Luiz Carlos Virgolino, um de seus fundadores e que morreu precocemente. Outro colega no Estadual da Prata que também foi presidente do Cineclube Glauber Rocha foi Roberto França. Essa turma também se relacionava fora das reuniões, na Praça do Rotary, no próprio Colégio e no Teatro Municipal.
FV - Qual foi a importância do cineclubismo na sua vida?
JNP - O cineclubismo teve importância capital em minha opção pela produção cultural. A paixão pelo cinema foi uma espécie de senha de entrada para o debate cultural mais amplo, literário inclusive. Além disso, me permitiu ter contato com um crítico de cinema de João Pessoa, Carlos Aranha, que propiciou meu contato com o Grupo Sanhauá, poetas de João Pessoa, principalmente Marcus Vinicius de Andrade. Por meio deles, passei a me corresponder com Mário Chamie e o pessoal do Poema/processo no Sudeste e em Natal.
FV - Qual a sua visão da atividade cineclubista?
JNP - A atividade cineclubística foi a esta época responsável pela descoberta do mundo lá fora através do cinema. Além disso, o Cineclube de Campina Grande - Luiz Custódio, Bráulio Tavares, José Umbelino, Rômulo e Romero Azevedo, entre outros - mantinha conosco uma rivalidade amigável e muito profícua. O cineclubismo foi o grande responsável pelo debate cultural em Campina Grande nos anos 60. Depois, viria Elizabeth Marinheiro com seus corais. Mas antes dela os cineclubes é que agitavam a moçada. A produção cinematográfica paraibana nasceu dos cineclubes. Linduarte Noronha, Vladimir Carvalho e Manfredo Caldas são produtos do cineclubismo. Assim como Wills Leal, Barreto Neto, Martinho Moreira Franco, Jurandy Moura, Carlos Aranha e outros baluartes da imprensa cultural paraibana. José Umbelino, Bráulio Tavares e os irmãos Azevedo beberam nessa fonte. Assim como Luiz Custódio, que fez carreira universitária, primeiro em João Pessoa e agora de volta a Campina Grande.
FV - O Cineclubismo teve alguma influência na sua vida profissional?
JNP - Como presidente do Cineclube Glauber Rocha, passei a selecionar os filmes para as sessões do Cinema de Arte, nas quartas-feiras, no Cine Capitólio. Como eu tinha de escrever críticas para explicar a seleção, publicadas pelo Diário da Borborema, tive meus primeiros contatos com o jornalismo, que se tornaria minha profissão.
FV - Em João Pessoa, a influência Católica foi marcante no início do cineclubismo. Em Campina Grande também teve essa influência? como foi?
JNP - Sim. Nossos ícones eram o baiano Walter da Silveira e o paraibano José Rafael de Menezes. Caminhos do cinema, de Zé Rafael, era uma espécie de bíblia de nossa geração. Eu já conhecia o pensamento humanista do cristão pregador da tolerância, nascido em Monteiro, pelas leituras no Instituto Redentorista Santos Anjos, onde estudei no começo dos anos 60. Discípulo de Jacques Maritain, Zé Rafael era uma espécie de Alceu Amoroso Lima nordestino. Sua influência foi capital no movimento como um todo.
FV - Durante a Ditadura Militar, a atividade cineclubista em Campina Grande sofreu alguma censura?
JNP - Nâo diretamente no cineclubismo, mas numa de suas vertentes. O Cineclube Glauber Rocha virou Grupo Levante, que realizou uma exposição no foyer do Teatro Municipal. Delatada por João de Assis, diretor do colégio 11 de outubro, a exposição foi censurada e apreendida pelo Grupamento de Engenharia, comandado à época pelo major Wilson Raizer.
FV - Qual a contribuição que o cineclubismo deixou para Campina Grande?
JNP - É possível dizer que tudo o que se produziu em arte e cultura em Campina Grande depois dos anos 60 teve origem nos debates dos dois cineclubes mais importantes. Nada foi em vão.
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