Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 111
(Próxima: 20/8/2011)


O Javali de Cálidon

Ártemis era uma deusa indomável e punia severamente os atentados contra sua imagem. A deusa puniu a negligência de Eneu de Cálidon de forma terrível. Segundo contam, após a boa colheita do ano, Eneu ofereceu sacrifícios a todos os deuses, mas esqueceu de Ártemis. A deusa se sentiu ultrajada e enviou para a região um javali ferocíssimo, que devastou todo o reino.

Com o intuito de acabar com o animal, Meléagro, o jovem filho de Eneu, convocou os melhores caçadores da região da Etólia, onde ficava Cálidon, e eles logo conseguiram matar o monstro. Ártemis provocou os caçadores etólios e os curetes para que disputassem a posse da cabeça e da pele do javali. Os antigos acreditavam que o couro de determinados animais possuía poder de proteção. Hércules, após matar o Leão de Nemeia, esfolou e retirou a pele do animal, que passou a ser sua marca registrada nos ombros. Com a cabeça do monstro fez uma espécie de capacete. A posse dos artefatos do animal abatido e dotado de mana simbolizavam o espírito vitorioso do herói.

Em muitas culturas o crânio tem importância nos cultos religiosos, pois é considerado o lugar onde se encontra a energia vital. É também símbolo do poder espiritual, por isso a disputa pela sua posse. No mito de Orfeu, as Mênades, inspiradas por uma paixão provocada por Afrodite, esquartejaram-no e jogaram a cabeça no rio. Os deuses enviaram um flagelo que só acabou quando encontraram a cabeça e fizeram as honras fúnebres.

O príncipe Meléagro estava vencendo a luta pelos despojos do javali, enquanto lutava ao lado dos etólios. Depois de um sério desacordo entre ele e seus tios, irmãos de sua mãe, o jovem assassinou os tios. Alteia, inconformada com o fato, invocou as divindades infernais contra o filho. Depois que Meléagro saiu do combate, a cidade foi sitiada e queimada. Atendendo aos pedidos dos sacerdotes e amigos mais chegados, o herói pegou novamente suas armas e conseguiu a vitória, mas pereceu em combate.

O mito do herói de Cálidon mais tarde foi enriquecido com outros incidentes dramáticos em torno da caça ao javali. Uma das variantes conta que, assim que Meléagro nasceu, as Moiras predisseram que sua sorte estava vinculada a um tição que ardia na lareira; caso este se consumisse inteiramente, o menino morreria. A mãe retirou de imediato o tição já meio consumido, apagou-o e o escondeu num cofre. A pós a caçada ao javali, Meléagro teria matado os tios porque se opunham ao fato de ele ofertar a pele do animal à namorada Atalanta, protegida de Ártemis. A mãe teria atirado o tição guardado ao fogo e provocado a morte de Meléagro.

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