Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida e O silêncio do delator, agraciado com o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL. Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor e conheça a poesia do colunista, cujo CD agora tem opção de download. Site: http://www.neumanne.com
Coluna de 25/9/2008
(Próxima coluna 2/10)
Êxito de Lula vira o jogo nas eleições
O inesperado e inusitado prestígio popular do presidente Lula em seu segundo mandato ajuda hoje a eleger aliados nas prefeituras e as vitórias destes poderão influir na sucessão, em 2010
Após inaugurar o segundo mandato com sucesso popular, ao contrário do que ocorre normalmente no mundo e também aconteceu aqui na primeira experiência neste sentido de seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode vir a instituir outra novidade em eleições: a transferência automática de votos. Além dela, a influência de uma gestão federal numa eleição municipal. E, depois dela, a possibilidade de uma disputa local alterar o quadro numa disputa nacional.
A desgraça do segundo mandato tornou-se notória no Brasil com o evidente desgaste da popularidade do ex-presidente tucano, que foi eleito pela popularidade conseguida com o patrocínio do fim da inflação e, depois, conseguiu emendar a Constituição para não ter de deixar o posto. Mesmo se dizendo adversário ferrenho da volta ao poder pelas urnas, Lula disputou e venceu a reeleição para navegar em mares de almirante no segundo mandato. Os altíssimos índices de popularidade que tem registrado ao longo deste bis de gestão não só prenunciam alvíssaras para ele e seus aliados na eleição presidencial daqui a dois anos, mas começam a ser benfazejos para os candidatos que apóia.
A virada mais espetacular nas intenções de votos desta eleição está ocorrendo aqui mesmo em São Paulo. No começo do ano, antes da campanha, nem o mais fervoroso petista contava com a possibilidade de vitória da então ministra do Turismo, Marta Suplicy: para ela, a disputa se prenunciava inglória contra a aliança tucano-dêmica, que vinha governando o maior município do País desde que José Serra impediu que ela própria fosse reeleita. Com o apelido de Martaxas e a desvantagem de ter mandado as vítimas do caos aéreo nacional relaxarem e gozarem nos aeroportos tumultuados, tudo o que ela podia fazer era esperar pela tida e havida como certa falta de memória da população. Hoje seus estrategistas já contam com a possibilidade de um triunfo no primeiro turno. Isso se deve muito à briga estúpida que divide seus adversários, mas é inegável a contribuição do apelo de Lula.
Idêntico movimento ocorre em cidades diferentes como São Bernardo do Campo e Recife. No berço político do presidente, seu ex-ministro Luiz Marinho ameaça o charme e a competência do prefeito tucano Dr Dib. Na capital pernambucana, o ex-favorito Mendonça Neto é ultrapassado por João da Costa, há pouco um ilustre desconhecido.
Talvez o PSDB e o DEM, que tudo têm feito para facilitar a vida do presidente no País, nos Estados e nas cidades, terminem forçados a assistir das bancadas minoritárias das Câmaras Municipais das cidades que antes governavam o fenômeno inusitado de um presidente eleger prefeitos para, depois, tirar vantagem disso na própria sucessão. é que no poder não há vácuo.
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