JOSÉ NÊUMANNE PINTO

Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida  e O silêncio do delator, agraciado com o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL. Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor e conheça a poesia do colunista, cujo CD agora tem opção de download. Site: http://www.neumanne.com

Coluna de 12/2/2009
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O cinema em minha vida (***)

Em 1966, eu cursava o primeiro ano científico no Colégio Estadual da Prata, em Campina Grande, e tinha entre os colegas de classe um moreno magro e meio encurvado, que fumava muito, adorava cinema, pretendia fazer teatro e morava na rua da Pororoca. Entre uma tossida e uma tragada, ele me contou que pertencia a um grupo que se reunia aos domingos numa das classes do Colégio das Damas: Iremar Maciel de Brito foi presidente do Cineclube Glauber Rocha, assim como outro colega de turma, Roberto França. Se não me engano, ambos figuravam entre os fundadores do Cineclube, dos quais se destacava, de forma que chegou a ser quase mitológica, um rapaz que havia morrido afogado muito jovem numa piscina: Luiz Carlos Virgolino, primo de Francisco Virgolino Barros, Nicó, também nosso colega de classe e um amigo muito chegado meu. Entrei no Cineclube, passei a freqüentar as reuniões semanais e dele fui presidente. Além das reuniões, o cineclube tinha a tarefa rotineira de escolher entre os filmes oferecidos pela distribuidora ao gerente do Cine Capitólio, Múcio, irmão de Luciano Wanderley, o dono do cinema, algum que preenchesse os requisitos para fazer parte da programação das quartas-feiras, as sessões chamadas de Cinema de Arte. Além disso, o presidente do Cineclube tinha de escrever um artigo explicando a escolha da fita no jornal Diário da Borborema. Graças ao Cineclube, travamos contato com o cineasta e crítico pessoense Carlos Aranha, que nos introduziu à fina flor da intelectualidade da capital: o Grupo Sanhauá de Marcos Tavares, Sérgio de Castro Pinto, Marcos dos Anjos e Marcus Vinicius de Andrade entre outros. A obrigação do texto semanal me levou a uma redação de jornal e ao abandono dos planos anteriores de cursar Geologia em Recife. Carlos Aranha e Manfredo Caldas iam a Campina Grande levando os cursos do Instituto do Cinema Educativa (INCE) do MEC para uma patota interessada, animada e que logo se transformaria no Grupo Levante, que montaria um texto meu no teatro, Pindorama Idolatrina Salve Salve, com direção de Carlos Aranha e um elenco do qual fazia parte Agnaldo Almeida, sobrinho de Iremar. O espetáculo foi proibido e o Cineclube extinto, mas eu só me tornei jornalista profissional e intelectual por causa desta paixão juvenil pela sétima arte. Outro episódio por mim vivido no Cineclube foi de importância capital em minha vida pessoal: nele conheci Regina Coeli do Nascimento, com quem me casei e tive três filhos, que nos deram dois netos.

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(***) Em 28 de dezembro, no Cine Mirabô, em Manaíra, João Pessoa, o colunista assumiu a Cadeira no 20 (cujo patrono é o também sertanejo Celso Furtado) da Academia Paraibana de Cinema. O presente texto foi escrito a pedido do fundador e presidente Wills Leal.

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