Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida e O silêncio do delator, agraciado com o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL. Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor e conheça a poesia do colunista, cujo CD agora tem opção de download. Site: http://www.neumanne.com
Coluna de 5/3/2009
(Próxima coluna 12/3)
O País do "eu sou, mas quem não é?"
Se José Serra adota práticas eleiçoeiras ilícitas similares às cometidas pelo governo no convescote dos prefeitos em Brasília, é o caso de processá-lo, não de usar isso na defesa
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua pretensa candidata à eleição presidencial no ano que vem, sua ministra do Planejamento, Dilma Rousseff, foram o centro das atenções dos 4 mil prefeitos reunidos em Brasília a pretexto de um encontro de natureza administrativa. O convescote municipalesco foi financiado com dinheiro público - calcula-se que foram gastos algo em torno de R$ 200 milhões, quatro vezes os R$ 50 milhões de esmolas anuais que o mesmo governo retira dos cofres da viúva para financiar a baderna subversiva do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem terra (MST). Não é lícito financiar grupos que violam a lei e cada vez mais só fomentam a violência e o desafio à democracia vigente no Brasil, caso óbvio do MST, como advertiu, com toda a razão do mundo, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Da mesma forma, ninguém precisa ser ministro do STF nem jurista nem sequer causídico para condenar o emprego de verbas públicas para patrocinar um comício de propaganda eleitoral de alguém que nem se candidatou.
Negar a natureza eleiçoeira da tal reunião assemelha-se a se queixar do calor no inverno polar da Antártida ou ligar o aquecedor diante da aproximação de lavas vulcânicas. Os governistas repetem a ladainha do batom na peça íntima por saberem que seu deslavado cinismo é protegido pela impunidade geral reinante neste País do faz-de-conta e do “me engana que eu gosto”, ora bolas! Não fora por isso, a candidatura da favorita do chefe teria sido impugnada antes de ser registrada.
A inerte, inapta e inepta oposição resolveu reclamar da armação ilícita do palanque e, embora se possa alegar que falta autoridade ao DEM para cobrar ética do governo, principalmente depois do episódio lamentável do corregedor incorrigível da Câmara, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve à Nação um julgamento isento da reclamação feita pelo referido partido. Espera-se da colenda Corte rigor semelhante ao empregado para cassar o governador da Paraíba, adversário do governo.
Nesse episódio lamentável não se pode deixar de execrar a estratégia da defesa feita pela Advocacia Geral da União (AGU), que alegou ter sido a mesma prática proibida pela lei adotada pelo principal adversário eleitoral de Dilma, o também ainda não candidato a presidente José Serra (PSDB). Se Serra realmente anda cometendo crime eleitoral semelhante àquele de que são acusados Lula e Dilma, é justo que os partidos governistas o processem. O que não dá para aceitar é submeter o Estado democrático de Direito à resposta que o canalha bêbado Tavares, interpretado por Chico Anysio, dava: “Eu sou, mas quem não é?”
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