Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida e O silêncio do delator, agraciado com o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL. Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor e conheça a poesia do colunista, cujo CD agora tem opção de download. Site: http://www.neumanne.com
Coluna de 13/8/2009
(Próxima coluna 20/8/2009)
O boquirroto e o goleador
Ao dizer a Ronaldo que indicará empreiteiros para o Corinthians construir seu CT, Lula pode ter feito só uma jogada demagógica.
Contar a gafe terá sido vingança do artilheiro?
Há três anos, em plena disputa da Copa do Mundo da Alemanha, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, questionou o então técnico da seleção nacional, Carlos Alberto Parreira, a respeito do peso do mais famoso e paparicado astro do time, o centro-avante Ronaldo, que havia brilhado quatro anos antes no pentacampeonato conquistado em gramados asiáticos. A gafe foi agravada pelo fato de o palpite infeliz ter sido disparado numa videoconferência com o técnico e os jogadores, mas sem a presença do protagonista, que, gripado, não compareceu. Habituado a contar impunemente piadas sobre todos, Sua Excelência foi obrigado a ouvir de volta alguns desaforos do craque, que evidentemente não apreciava a própria fama de Ronalducho, como chegou a ser chamado à época. O astro, então fora do Brasil e gozando de excelente conceito nos clubes por onde passou na Holanda, Itália e Espanha, não ficou no clássico “eu jogo e ele governa”, mas fez uma insinuação a respeito da notória predileção presidencial por bebidas alcoólicas.
O chefe do governo despachou, então, seu ministro de Esportes, Orlando Silva, para Königstein, e este se esforçou tanto para desmanchar o “mal entendido” que chegou ao ponto de proferir disparates do gênero: “Vim aqui para expressar o sentimento nacional sobre a seleção brasileira e para dar confiança aos nossos jogadores”. É claro que a presunção ministerial não bastou para levar o grupo, dividido por interesses pessoais e comerciais, ao hexa. E o assunto morreu. Até o retorno do robusto goleador à Pátria.
E ele voltou para atuar pelo Corinthians, paixão aberta e declarada de Lula. De parte a parte, foram feitas muitas tentativas de reaproximação, até que o time se sagrou campeão da Copa do Brasil em Porto Alegre, embarcando no dia seguinte para levar o troféu para o presidente da República erguer. Na ocasião, segundo o artilheiro contou, o chefe de Estado lhe confidenciou que indicaria empreiteiros para a construção do sonhado Centro de Treinamentos (CT), que outros têm, mas seu time não.
Foi uma frase infeliz de um presidente que deveria se dar mais ao respeito? Ou uma lance demagógico, similar ao do tucano paulista Walter Feldman, que, a serviço do prefeito Gilberto Kassab (DEM), lançou a idéia de ceder o Estádio Paulo Machado de Carvalho, que é público, ao clube mais popular do Estado? No meio dessa disputa entre governo e oposição para ver quem consegue explorar de forma mais rasteira o amor das massas por uma equipe de futebol, fica, contudo, uma dúvida no ar: não terá sido uma mera vingança de Ronalducho contra seu detrator na Copa? Afinal, a vingança é um prato que se deve comer frio.
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