JOSÉ NÊUMANNE PINTO

Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida  e O silêncio do delator, agraciado com o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL. Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor e conheça a poesia do colunista, cujo CD agora tem opção de download. Site: http://www.neumanne.com

Coluna de 3/122009
  (Atualização quinzenal)

O papelão do Brasil em Tegucigalpa

Agora só Lula pode remover o único obstáculo que resta para a volta à rotina democrática em Honduras: encontrar um jeito honroso de retirar Zelaya da embaixada

A eleição para presidente de Honduras ocorreu anteontem, em paz e com um comparecimento espetacular, inusitado na história daquele país centro-americano (62%), se comparado com as altíssimas abstenções registradas anteriormente: Manoel Zelaya obteve a maioria dos votos de apenas 55% dos eleitores hondurenhos. Não há registro de irregularidades, ninguém contestou o veredicto e é certo que o presidente eleito, Porfírio “Pepe” Lobo, reúne  condições para restituir a normalidade ao país, isolado do mundo desde que o presidente constitucionalmente eleito e institucionalmente legítimo resolveu mandar as instituições às favas e renegar o princípio constitucional pétreo da proibição da reeleição do chefe do Executivo. Ele foi, por isso, deposto pelo Judiciário e expulso do país pelos militares encarregados de cumprir essa ordem.

Em que se apoia, portanto, a diplomacia brasileira para proclamar que não aceita o resultado eleitoral, que seria, a seu ver, uma extensão do “golpe” militar que depôs Zelaya, o queridinho do venezuelano Hugo Chávez, atualmente ocupando, como  hóspede, mas com ares de dono, a embaixada brasileira em Tegucigalpa? A escolha de mandatários do Executivo e representantes do Legislativo pelo legítimo instrumento eleitoral de tempos em tempos, obedecendo a prazos estipulados para a duração dos mandatos, é um método clássico de consultar a vontade popular. Isso ocorre em democracias bicentenárias como a americana ou mais jovens como a nossa. Nenhuma barretada ideológica negará essa constatação lógica.

O sucesso da eleição comprova que foi um erro crasso isolar Honduras apenas por empáfia e desconhecimento das regras institucionais de uma democracia que, mesmo fragilizada pela constante intervenção de pronunciamentos ao longo dos anos, existe e merecia mais respeito. O império americano teve a humildade de reconhecer o próprio engano, recuar e ajudar a procurar uma solução para o impasse absurdo criado pelo desprezo dos países democráticos pela soberania hondurenha.

O único obstáculo à volta à rotina democrática, a ser celebrada num país assolado por ditaduras brutais, é a presença de Zelaya apostando no pior (como sua previsão do recorde de abstenção, recusada pelos eleitores), sob o patrocínio do venezuelano Hugo Chávez e do governo brasileiro, que se prestou ao serviço sujo de hospedá-lo. Em vez de proferir disparates e bravatas sobre o “golpe das urnas”, Lula devia mandar o chanceler de direito Celso Amorim e o de fato Marco Aurélio Garcia procurarem uma saída honrosa para o ridículo hóspede da embaixada, sob pena de prolongar indefinidamente nosso papelão.

______________
Colunas anteriores:
01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 4445, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 116 , 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125126, 127, 128, 129, 130 , 131, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 142 , 143, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 176 , 177, 178 , 179, 180, 181, 182, 183, 184, 185, 186, 187, 188, 189, 190, 191, 192, 193, 194 , 195, 196, 197, 198, 199 , 200, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 212 , 213, 214, 215, 216, 217, 218, 219, 220, 221, 222, 223, 224, 225, 226, 227, 228, 229, 230

« Voltar