Coluna de 26/4/2011
(próxima coluna: 9/5/2011)
BREVES ANOTAÇÕES PARA OS QUARENTA ANOS
1 – Quarenta anos, a enigmática idade, a emblemática idade. A metade do homem. A curva que começa a descender. Mas ascender também, tudo é questão de perspectiva. Ter que enfrentar a crise, a idade do lobo. O lobo um tanto cansado, mas lobo. Ter ainda sonhos de consumo: para alguns ter uma amante, ou trocar a mulher de quarenta por duas de vinte. Para outros, largar tudo. Sair do armário. Ir vender cocos numa praia em Fortaleza. Para alguns, dar a volta ao mundo. Comprar um barco. Esquecer a vida que tem. Para outros, começar realmente a vida que tem, diminuir o tempo do trabalho e inserir a família no seu tempo. Para alguns começar a ser feliz. Para outros continuar sendo, apenas com algumas polegadas a mais de sabedoria.
2 – Quarenta anos. Lutar com a barriga, a academia, a corrida nos finais de semana. O espelho. Não aquele velho e bom espelho dos banheiros e quartos, mas o espelho daninho dos corpos jovens, dos olhares jovens, dos comentários jovens. Os cabelos em começo branco. Mulheres podem fingir seus brancos. Homens ficam ridículos, é o que as mulheres dizem. Como ter um novo começo com cabelos que embranquecem. Ter que enfrentar o perigo: a próstata. A piada. O dedo do doutor. A macheza invicta. Não há macheza contra o medo da morte e a vista cansada. Os óculos necessários, apesar de esquecidos.
3 – Quarenta anos. Os filhos jovens. Começam a se encaminhar na vida. A repetir os padrões. Sustentar mais um tempo, é preciso, é o papel de pai, de mantenedor, de chefe de família. Ainda muito forte isso na vida, apesar dos novos tempos. Quem sabe um neto agora ou em breve. Talvez um filho temporão. A raspa do tacho. Muito novo ainda para raspar o tacho. Muito novo ainda para ser chamado de avô. Ou filho nenhum, o que aconteceu?, perguntam. Respostas várias, a melhor é a do velho e sábio Brás Cubas: não deixar para ninguém o legado de nossa miséria. Talvez uma infertilidade. Talvez só escolha mesmo. Um pouco de pessimismo. O sucesso profissional, o dinheiro. A vida encaminhada. O vencedor. O homem direito. Também aquele que nunca se endireitou, quando chega aos quarenta é olhado como um caso perdido. Não casou, não construiu, não encaminhou-se na vida. Por que solteiro? Por que não trabalha? Onde já se viu um homem desse tamanho com esse comportamento? Velho já.
4 – Quarenta anos. Aquele que pode dizer “no meu tempo” e ninguém contestar. O corpo sem respostas tão rápidas. O pensamento mais evidente: “se soubesse disso aos vinte”. Se teve um amor longo, ele agora está substantivado. Se o amor acabou, recomeçar, reiniciar, retomar, refazer, rever. Quarenta anos, a idade do prefixo “re”. A idade em que qualquer ineditismo parece ser uma retomada, uma revolta, uma revolução que trará novos ventos, novos caminhos, novos quarenta anos pela frente.
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