Coluna de 9/9//2011
(próxima coluna: 26/9/2011)
Num futuro, talvez não muito distante...
Era uma vez uma ilha.
Era uma vez um lugar dentro dessa ilha que chamavam de universidade. Várias pessoas iam diariamente para esse lugar exercer diversas funções: estudar, ensinar, limpar, administrar, pagar, receber, organizar, gerir, vigiar. De forma geral, se podia dividir as pessoas que frequentavam esse lugar entre os que lá trabalhavam e aqueles que só estudavam. Muitos dos que lá chegavam para estudar eram festejados por suas famílias como vencedores. Havia rituais de corte de cabelo, pinturas no corpo. Os que já tinham chegado antes faziam com que os novos, chamados calouros, pedissem dinheiro nos cruzamentos. Trabalhar lá também não era fácil, precisava-se passar por uma prova e quem era aprovado também merecia as felicitações da família e dos amigos.
Certo dia, um grupo dos que lá trabalhavam resolveu parar de trabalhar. Eles estavam insatisfeitos com o salário e as condições de trabalho. Essa parada era o que eles chamavam de greve. Na universidade quem manda são instâncias superiores muito distantes, então para poder negociar melhoras esses que lá trabalhavam resolveram parar de trabalhar, fechar alguns departamentos, setores, enfim, tudo aquilo que eles conseguissem. A ideia era provar que sem eles a universidade não funcionaria. Então fecharam a biblioteca e o restaurante universitário e mais alguns lugares menores. O restaurante era um lugar onde os estudantes faziam refeições pagando preços módicos. Era uma forma de ajudá-los economicamente. A biblioteca era um lugar onde ficavam os livros, era um lugar grande, feito para que os estudantes pudessem adquirir mais saber, mais conhecimento. Os que trabalhavam na universidade acreditavam que se fechassem esses dois lugares, logo suas reivindicações seriam aceitas por seus patrões distantes. A princípio, alguns estudantes reclamaram de que o restaurante estava fechado e eles teriam que gastar mais para se alimentar. No entanto, eram reclamações pífias, cada um foi se adaptando como pode, se alimentando em outros lugares só um pouquinho mais caros do que o restaurante da universidade, logo já nem se lembravam mais dele.
Triste destino também teve a biblioteca. Fechada, foi completamente abandonada. Ninguém se manifestou ou pediu sua reabertura, ou pressionou os patrões distantes dos funcionários que a fecharam, nada aconteceu. Todo aquele lugar que centrava o conhecimento da universidade parou de existir. Ninguém deu falta disso.
Por um tempo, os grevistas ainda tentaram falar da importância de suas funções, de como eles eram necessários para o funcionamento da universidade. Pouco adiantou. Os patrões distantes perceberam que a biblioteca e o restaurante eram lugares inúteis. Foram sumariamente demolidos e transformados em estacionamento, algo que realmente beneficiou muito mais as pessoas que frequentavam a universidade.
Quanto aos grevistas, foram remanejados, relocados, pois a lei não permitia que eles fossem demitidos. Alguns ainda tentam a greve. Toda vez que fecham algo, os patrões distantes transformam em estacionamento. Os estudantes têm adorado a ideia, inclusive já estão pedindo para que toda a universidade vire um belo, confortável e necessário estacionamento.
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