Coluna de 26/9//2011
(próxima coluna: 9/10/2011)
Li uma reportagem sobre o colapso das colmeias e comecei a elucubrar novos colapsos impostos pela natureza. Para quem não sabe, o colapso das colmeias é um fenômeno que faz as abelhas produtivas desaparecerem das colmeias. As abelhas abandonam tudo, inclusive crias, desaparecem sem deixar vestígios. Começou há alguns anos nos Estados Unidos e agora parece que o fenômeno chegou a Santa Catarina. Alguns apicultores já notaram o sumiços das abelhas e estão começando a ficar preocupados. Os cientistas ainda não descobriram os motivos, estão apenas trabalhando com hipóteses como mudanças climáticas, uso de agrotóxicos, algum tipo de vírus.
Para além de todo o problema social e econômico que o sumiço das abelhas pode provocar, não deixo de pensar numa revolta. Uma poética revolta das abelhas cansadas de produzirem mel para os homens. Como começou? que abelhinha americana pensou em organizar o sumiço? Como a notícia se espalhou e chegou até o sul do Brasil? O denominado colapso das abelhas pode muito bem ser a libertação das mesmas. Chega das mesmas flores, dos mesmos caminhos, da mesma colmeia, chega de trabalho e lá partiram as abelhas para algum lugar que ninguém conhece. E quando o colapso chegar a outros bichos que só trabalham para os homens? E quando os avicultores chegarem nas granjas e as galinhas tiverem sumido, logo depois os porcos, os bois e vacas e todos os animais explorados pelos humanos. Sumiço geral, os bichos espalhados pelo mundo e ninguém sem saber bem o que fazer, sem saber o que comer.
Alguns dizem que os acontecimentos climáticos recentes já são uma espécie de colapso, ou de retorno da natureza a seu lugar. O homem é um bicho gregário, mas ao mesmo tempo destruidor do ambiente, atua como se não pertencesse ao sistema da natureza, mas fosse o seu dono. É visível o afastamento da humanidade da natureza, já não somos mais parte da natureza, mas algo que paira sobre, manipulando, fazendo estripulias, brincando com o próprio destino. Enquanto isso, os colapsos acontecem: primeiro o clima, depois o mar, as águas, as abelhas, logo virão os outros bichos, até chegar um dia em que os vegetais também se revoltarão, também entrarão em colapso e sumirão do mapa. Até chegar o dia em que o humano será realmente rechaçado da natureza, não por sua vontade como acontece agora, mas por vontade da própria natureza, a grande mãe que um dia será realmente incapaz de perdoar.
Claro que minha distopia é apenas isso: uma distopia, uma situação de um futuro imaginário, um tanto ingrato para o humano, um tanto pessimista em relação à raça da qual faço parte. Mas os sinais estão aí: tragédias ambientais contínuas, montanhas antes vestidas de neve agora desnudas, o mar infestado de plástico, além disso, o sumiço das doces e trabalhadoras abelhas, diagnosticando que o futuro não será aquele melzinho na chupeta como muitos pensam.
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