Coluna de 9/2/2012
(próxima coluna: 26/3/2012)
A CONTINUIDADE DE TUDO
No Sul do Brasil, a chuva coroou mais um Ano-novo. As filas no trânsito se repetem. As famílias se encontram. Amigos comemoram de branco. Outros acham o branco so last season. Pessoas continuam perdendo as mãos com fogos de artifícios. Os cães e os gatos ficam assustados, isso sem falar dos pássaros, dos gambás, preás, ratos e lagartos que devem achar que os humanos enlouqueceram de vez. O álcool continua fazendo vítimas comprovando a loucura humana. As rolhas dos espumantes e frisantes continuam fazendo barulho, batendo no teto, espalhando um contentamento quase sublime. Castanhas, uvas, sementes de romãs, simpatias, sete ondas, oferendas, cantigas, abraços, o ritual de passagem e permanência. Mais um ano, novas previsões, novas escolhas, novos planos até que o “novo” perca a validade e se transforme em um “mas já é final de janeiro, como passa depressa!”.
A vida logo entra nos eixos. Esse ano talvez seja ainda mais rápido, pois o primeiro de janeiro caiu num domingo, alguns até conseguiram enforcar o dia 2, mas outros já abriram seus comércios, restaurantes, padarias. A vida segue, o mercado e a mercadoria devem estar sempre à frente e sempre abertos. As promessas pipocam: academia, reeducação alimentar, mudança de hábitos, perdão, terapia, casa nova, mulher nova, viagem.
A praia continua sendo o destino de milhares: areia, protetor solar com preços abusivos, alegrias azuis e molhadas, filho perdido, marido perdido em uma bunda, briga, encontro, passeios nas pedras, trilhas, parapentes, céu nublado, férias acabando, férias começando, argentinos, paraguaios, uruguaios, alguns chilenos, brasileiros do interior, Goiás, Rondônia, Mato Grosso. Trânsito lento, a última música descartável: “Ai se eu te pego”. Festas, praias desertas, rios, hotéis fazenda. Curtir a natureza. Poluir a natureza. Beber água, reclamar da falta d'água. Operação verão. Obras inacabadas, adiadas para um futuro próximo. O verão promete mais uma vez ser o melhor da década.
O resto do ano também será de continuidade: no Carnaval, carros alegóricos vão quebrar. Choverá volumes muito maiores que o suportável. As eleições municipais ocorrerão no ritmo das promessas: saúde, educação, transporte e segurança. Por um voto, você receberá tudo isso de forma imediata. O campeonato brasileiro de futebol tomará um bom tempo nas conversas. Quatro ou cinco novelas estrearão. Os vilões farão as maldades de sempre enquanto as mocinhas sofrem. Com um pouco de sorte um “Quem matou” vira assunto no twitter. Na internet, os idiotas, os animais, as falsas polêmicas terão seus minutos de glória.
Assim, a vida é continuidade. Cada um vai fazendo o que pode e deve, outros fazem o que não podem e não devem, até que chegue janeiro de 2013. Isso, claro se um certo calendário maia não interromper a nossa tão querida continuidade.
Feliz 2012
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