"POETICIDADES E OUTRAS FALAS"
RUBENS DA CUNHA

Reside em Joinville, SC. Autor de "Campo Avesso" e "Visitações do Humano". Acadêmico de Letras. Escreve semanalmente no Jornal A Notícia e coordena o Grupo de Poetas Zaragata. Na Web tem o e-book: "A busca entre o vazio", disponível para download,
na URL: <http://www.arcosonline.com/index.php?option=content&task=view&id=146&Itemid=>.
Blog "Casa de Paragens": <www.casadeparagens.blogspot.com>.

Coluna de 9/7/2012
 (próxima coluna: 26/7/2012)

O século

Alain Badiou é um dos principais pensadores dos tempos atuais. Um de seus melhores livros é O Século, uma reunião de treze conferências que ele ministrou no Collège International de Philosophie, entre 1998 e 2001. Como o próprio título do livro anuncia, Alain Badiou discute o peculiar século XX.

O século XX começou promissor, ou como diz Badiou, com uma largada excepcional: O período entre 1890 e 1914 foi como um “renascentismo”, período de grande criatividade, tempo de rupturas prodigiosas. Mallarmé, Freud, Schoenberg, Proust, James Joyce, Wittgenstein, Picasso, Braque, Husserl, Fernando Pessoa, Griffith, Chaplin, são alguns exemplos de nomes que começaram a trabalhar, ou apresentaram suas grandes obras nesse período. A pergunta que segue é: o que aconteceu? Por que todo esse processo inovador se perdeu diante da primeira guerra, todo um período de resseção, e depois ainda outra grande guerra, e por fim esse nosso tempo de agora com grandes avanços tecnológicos e científicos, porém cada vez mais dominado por sistemas invisíveis como o mercado e o lucro?

A resposta não é simples nem única, porém passa por uma vontade que o século XX teve de criar um homem novo, um homem que surgiria da guerra, da destruição, para modificar tudo. A resposta toca também a questão do fim do humanismo nos moldes tradicionais e na morte de Deus, aquela mesma prenunciada por Nietzsche e tão mal compreendida até hoje.

O século XX é marcado pelas guerras, duas mundiais, inclusive. E estas duas grandes guerras mundiais vieram sempre com a promessa de que seriam “a última”, e, sobretudo, que elas precisavam existir para combater o Mal. O mal foi vencido com toda a violência necessária, no entanto, o lado vitorioso, personificado pela ideia de democracia, continua fazendo seus estragos. Badiou ressalta que “nossas democracias, profundamente humanitárias quando se trata de bombardear a Sérvia ou o Iraque, praticamente não se preocupam com o extermínio de milhões de africanos por doença, a aids.”O filósofo francês prossegue com seu olhar bastante ácido sobre a inatacável democracia ocidental, dizendo que um dos problemas do século é o “acoplamento de democracias”, e que essas democracias sempre chamam o outro, o inimigo de barbárie, e, sobretudo, inocentam-se da barbárie, e com o manto da inocência podem atacá-lo. Anote-se que essas ideias foram escritas antes dos atentados às torres gêmeas, ou seja, o outro, a barbárie, o selvagem se tornou ainda mais claro, ou, ainda mais fácil de ser atacado, e nós, os ocidentais democráticos e inocentes precisamos nos defender, enfim, toda aquela ladainha que já conhecemos.

O século XXI, diferente do XX, começou sem grandes esperanças. Já perdemos uma década repetindo os mesmos erros e os mesmos discursos e nada de aprender com o passado bastante recente e bastante documentado. Como diz Badiou, o homem se transformou mesmo num animal lastimável.

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